11/06/2025
Após um longo período de poucos investimentos fora do País, a Petrobras novamente volta seus olhos para o mercado internacional em busca de reservas. Na semana passada, anunciou mais um mercado para desbravar: Costa do Marfim, na costa oeste africana. Se sair vitoriosa da licitação, os ativos vão se somar a outras iniciativas no mesmo continente, como África do Sul, Angola, Namíbia e São Tomé e Príncipe.
Em 2023, a empresa retomou sua presença na África — continente praticamente abandonado nos governos Temer e Bolsonaro —, com aquisição de participação em três blocos em São Tomé e Príncipe, também na costa oeste africano, uma região que, segundo estudos geológicos, teria sido separada do continente sul-americano há milhões de anos.
Em fevereiro de 2024, a companhia anunciou a aquisição de participação em três blocos exploratórios — 10, 11 e 13 —, operados pela Shell, em São Tomé e Príncipe.
Além disso, celebrou aditivos aos contratos de partilha de produção e Joint Operating Agreements correspondentes, passando a fazer parte dos consórcios dos referidos blocos, que incluem ainda a Agência Nacional de Petróleo de São Tomé e Príncipe e a Galp. Com isso, a petroleira ficou com 45% de participação nos blocos 10 e 13 e 25% no bloco 11.
Potencial
Segundo o analista de energia da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, a empresa ganha tração com o novo acordo de exclusividade para avaliar outros ativos na região.
“Trata-se de um movimento coerente com sua estratégia de expansão seletiva em águas profundas e ultraprofundas, com geologia compatível à sua expertise e bom potencial de descoberta”, afirmou.
Ele explicou que, apesar das diferenças em relação ao pré-sal brasileiro, a bacia offshore da Costa do Marfim compartilha algumas características operacionais semelhantes às do Brasil: lâminas d’água profunda, sistemas petrolíferos ativos e infraestrutura crescente.
O interesse de majors como TotalEnergies, Shell e Eni na margem atlântica africana — e descobertas recentes como o campo Baleine (mais que 2 bilhões de barris de reservas) reforçam o atrativo da região.
“Além do alinhamento técnico, o avanço na África é estratégico: a vida útil média das reservas provadas dispostas atualmente pela Petrobras gira em torno de uma década, o que impõe a necessidade constante de reposição. A Costa do Marfim oferece uma janela oportuna para novos volumes exploratórios, com relação risco-retorno controlado e possibilidade de desenvolvimento competitivo no médio prazo”, disse Arbetman.
A expansão para o continente africano tem como objetivo a busca de reservas, e até mesmo a Índia, um país onde a companhia nunca havia ventilado se instalar, já entrou no rol de possíveis alvos da estatal brasileira. Afinal, os fartos reservatórios do pré-sal não são infinitos e começam a declinar no início da próxima década. Mesmo em meio a uma transição energética, sem novos reservatórios, a produção da companhia tende a diminuir ano a ano sem novas descobertas.
Investimentos
Ainda não está claro, porém, quanto a empresa planeja investir fora do Brasil. Apesar de não citar exatamente a Costa do Marfim no plano atual (2025−2029), a previsão é de aplicar US$ 1,7 bilhão em investimentos exploratórios até 2029 fora das margens Sul, Sudeste e Equatorial brasileiras.
A participação da produção internacional no total consolidado da companhia, no ano passado, não passou de 1,26%. Mas tanto investimento quanto o peso na produção total devem crescer com as novas ambições da atual gestão.
Tanto a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, quanto sua diretora de Exploração e Produção, Sylvia anjos, não poupam declarações favoráveis à atuação internacional da companhia.
“Acreditamos e queremos o Brasil. Por isso a gente está lutando tanto para conseguir a nossa licença (de perfuração na Foz do Amazonas). Mas temos um conhecimento, é sabido que (os territórios de) Brasil e África estiveram juntos. Então a gente sabe que a geologia se espelha uma na outra. Por isso também conhecemos muito bem a África”, afirmou Sylvia no mês passado.
Autor/Veículo: O Estado de São Paulo
Comments are closed